Já faz algum tempo que cheguei a Marte. É estranha a sensação de procurar o que se quer, mas não saber em qual direção seguir em um horizonte onde qualquer rumo parece sempre o mesmo.
Daqui, às vezes observo a Terra, ou o que parece ser o planeta azul. Um ponto luminoso no céu marciano pode ser qualquer coisa assim como, na monotonia marciana, tudo parece sempre a mesma coisa, sempre igual. As estrelas passam, o Sol vai e vem, a vida passa. As noites são mais frias e escuras, silenciosas e vazias. As aves de lá gorjeiam e aqui nem ave tem.
Não existe o certo ou o errado, só existem tentativas e uma busca tão incerta, mas ao mesmo tempo tão intensa, que me consome e, às vezes, confesso, me faz querer entrar em minha nave e rumar para outro planeta. Mas, ela parece não mais querer funcionar e aqui não tem como consertar, somente esperar outro visitante para me levar ou, quem sabe, minha nave voltar a funcionar.
Já faz algum tempo que cheguei em Marte. Queria, na verdade, ter ido para outro planeta, mas a gravidade foi mais forte e fui lançado ao solo do planeta vermelho sem nem tempo de pensar ou me defender. Quando vi, estava caído, observando e tateando, tentando inutilmente entender o porquê de estar ali.
Eu não quis vir para Marte. Eu queria apenas navegar para longe da Terra até encontrar um sinal em algum outro planeta para seguir e pousar suavemente.
Eu não quis vir para Marte e já faz algum tempo que cheguei aqui. Mas, não foi uma viagem forçada. Foi uma viagem planejada, interceptada no meio caminho para um destino não planejado.
Eu não quis vir para Marte, porém Marte me trouxe até ele. Já faz algum tempo que cheguei e não sei quando vou sair daqui.
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