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O poema que fiz para você

Certa vez escrevi um poema para você. Por muito tempo achei o texto estranho, palavras vazias, sem profundidade. Por mais que eu tenha escrito, eu não me enxergava nas palavras, eu não via meus sentimentos nas pontuações e nas entrelinhas.

Hoje eu reescrevi o poema que fiz para você. Mesmo fingindo um sentimento que deveras vivo, eu consigo enxergar pedaços do meu coração ali, no espaço entre as palavras e versos. Enfim parece que, agora, de fato, há vida ali e eu vi muito sentido nisso.

É difícil aceitar e entender, mas você nunca esteve ali. Meus versos eram verdadeiros, mas faltava a verdade do seu coração e tudo ganhou uma mecanicidade. A verdade é que minha vida sempre teve espaço para teu descanso, mas você, por qualquer motivo, fingiu querer ou desistiu de ocupá-lo.

Doeu muito no início e ainda dói quando penso. Talvez doa para sempre. Mas, é melhor a dor que sinto agora que a dor de acordar com você ao meu lado e saber que só eu estou presente em um momento que deveria ser luz.

Talvez o poema não deu certo pois com você não existiam versos. Só existiam letras jogadas, vírgulas abandonadas, palavras coladas de qualquer jeito para fazer um sentido que dentro de mim não existia como deveria ser. 

Não que eu busque rimas e métricas perfeitas ou coisas assim, muito pelo contrário. Acho que o poema não deu certo com você pois faltaram ingredientes como afeto e reciprocidade. Faltou, portanto, verdade.

Acho que também reescrevi o poema por vingança. Os poucos versos que restaram da versão original mereciam uma nova chance de continuar existindo. Não por você, mas por mim, por eles, pelo meu sentimento. 

Os poucos versos que restaram da versão original mereciam ter uma nova chance de ver a luz do sol, encontrar outros versos que combinam melhor, que fazem mais sentido, que exalem mais verdades, que relatem um sentimento puro.

Os poucos versos que restaram da versão original fazem parte da minha essência e, quando reescrevi, vi o quanto eu não estava ali de verdade, apesar de acreditar no contrário.

Apesar de ainda sentir um pouco de dor e solidão, eu merecia ver aquele poema de outro jeito, encaixar aquelas palavras de outra forma. Assim, talvez eu comece a enterrar de vez o que passou e a abandonar o luto que persiste, talvez mais do que deveria.

Hoje, ao reescrever o poema que fiz para você, foi como se de fato o terminasse. Ele estava inacabado, na verdade. O que existiam eram gambiarras textuais que, honestamente, nem fazia tanto sentido assim. E, pasme, até encontrei soluções para alguns versos que sempre me incomodaram: apaguei todos. Não sobrou nenhum. Só restou aquilo que meu coração de fato quis dizer.

É… Talvez eu tenha reescrito o poema por vingança mesmo. 

Ou, talvez, após tanto tempo longe, finalmente eu tenha percebido que de fato nunca o terminei e só agora, entre uma coisa e outra, me reencontrei e também encontrei as palavras certas e a respiração correta.

Só agora, talvez, eu tenha encontrado o eu lírico ideal, a figura de linguagem perfeita e a metáfora mais doce, pois, sem você, o meu mundo finalmente passou a girar no compasso certo.

E os olhos negros que um dia me inspiraram não são mais os mesmos, mas seguem como outrora foram: da mesma cor, igualmente doces, cheios de uma luz única e especial, mas, contudo, todavia, porém, no entanto, agora eles são janelas para outra vida. Me encantando do mesmo jeito, mas em outro alguém.

Publicado emCartas de Amor Nunca Enviadas

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