Saí da faculdade apressado, como sempre, naquela noite de início de julho de 2011. Milhões de pensamentos, sentimentos e tarefas a cumprir. Resolvi ir por um caminho que nunca tinha feito e fui abordado por um dos inúmeros moradores de rua da cidade de Santos.
O cara veio desesperado, disse que tinha AIDS e pedia “uma grana” para comprar um pão mortadela. Eu não tinha quase nada no bolso, apenas algumas poucas moedas que sobraram após comprar um pastel minutos antes. Disse que não tinha dinheiro. Numa atitude desesperada, ele se abaixou, começou a chorar e implorou que eu o ajudasse. Por fim, dei os centavos que tinha no bolso.
Sua felicidade foi radiante e instantânea. Aliás, nunca vi alguém tão feliz por ganhar algumas poucas moedas. Segundos depois, ele disse querer beijar meus pés. Disse que não, que isso era desnecessário. Ele insistiu. Eu disse que não. Ele se abaixou diante de mim e eu saí andando. Ele então levantou, olhou para cima e disse apontando para o céu:
– Deus vai te pagar! Acredite: Deus vai te pagar!
Continuei o caminho até minha casa e fiquei pensando: será que ele realmente iria usar aquele dinheiro para comprar comida ou iria comprar drogas? Não sei. Isso pouco importa. Acreditei que ele realmente compraria comida. Senti que deveria dar o dinheiro. E assim fiz. Cumpri um papel. E só!
Na verdade, fiquei pensando no desespero daquele homem que chegou a se humilhar e se colocar prostrado diante de mim quando recebeu aquelas moedas. Não saberia traduzir o sentimento, mas é um misto de revolta com impotência. Um misto de raiva com pena.
Ainda não estou “anestesiado moralmente” e essa situação me deixou abalado. O desespero do sofrimento alheio choca, incomoda. Aquele homem foi para seu canto ou para qualquer outro. Ele estava feliz e com algum dinheiro que o deixava mais perto daquilo que precisava.
Com certeza ele abordou outra pessoa que ajudou (ou não!) a diminuir o caminho entre ele e a sua necessidade.
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