As ferramentas de Inteligência Artificial (IA), como o ChatGPT e tantos outros, vão dominar o mundo da geração de texto e conteúdo, incluindo livros e roteiros.
Dizem.
Entretanto, elas parecem ter um longo caminho a percorrer quando o assunto é desenvolver tramas de ficção adulta. Nós, autores, sabemos que um vilão tem dois caminhos básicos: a redenção ou o sofrimento por tudo o que fez de ruim em uma trama.
Porém, usei diversas ferramentas de IA e nenhuma pareceu entender isso.
Elas sempre colocam uma lição de moral ou tentam dar um viés doutrinador a respeito de fazer o bem, valor da amizade e etc. Não que isso seja ruim, muito pelo contrário, mas destrói o encantamento que todos nós temos quando vemos a luta do bem contra mal sendo representada no embate, por exemplo, entre uma mocinha e uma vilã em um livro, série ou telenovela.
Pensando nisso, eu reescrevi algumas passagens de obras famosas no estilo do que o Inteligência Artificial faria. Não quis usar nenhuma ferramenta pois, apesar de entender o funcionamento delas, eu demoraria mais tempo do que gostaria fazendo o sistema entender a minha real necessidade e a minha ironia.
Eva no Jardim do Éden
A Serpente, decidida a enganar Eva para que esta mordesse a maçã, percebeu, após falar com a Lagosta, que ludibriar não é uma atitude boa. Então, desistiu de mentir e pediu ajuda ao Elefante para derrubar a Árvore do Conhecimento e enterrá-la em um canto remoto do Jardim do Éden.
O Conde de Monte Cristo
Edmond Dantè, ao final, entendeu que se vingar não é a melhor forma de extravasar sua ira e aprendeu que ser uma pessoa boa, que ajuda os pobres e necessitados, é um caminho para canalizar a sua insatisfação. Ele descobriu muito valor em ajudar o próximo e foi feliz para sempre.
Mulheres de Areia
RUTH: Você precisa aprender a ser uma pessoa boa, Raquel, e não tratar as pessoas assim.
RAQUEL: Eu não quero ser uma pessoa boa. Odeio gente do bem.
RUTH: Mas, você precisa ser uma pessoa boa, tratar as outras pessoas com respeito e amor.
RAQUEL: Tá bem. Você me convenceu.
A partir daquele momento, Raquel começou a fazer boas ações e com o tempo ela descobriu que ser uma pessoa boa vale a pena e as duas irmãs redescobriram o verdadeiro valor da amizade fraternal e foram felizes para sempre.
Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado
Por fim, ele percebeu que ameaçar os outros por causa de ações realizadas no verão passado não era uma atitude positiva e que, por envolver um crime, o correto seria procurar a polícia e fazer uma denúncia anônima, caso tivesse medo de represália. Ele assim fez e foi feliz.
Faroeste Caboclo
Não tinha medo o tal João de Santo Cristo, era o que todos diziam quando ele se perdeu. Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu. Por fim, ele percebeu que sentir ódio não era uma atitude positiva, perdoou a todos e foi feliz.
Cinderela
A Madrasta, percebendo que jogar as lentilhas nas cinzas seria uma atitude ruim e que iria atrapalhar a vida de Cinderela, desistiu do ato e chamou a enteada para se arrumar para o baile junto com suas filhas e assim todas descobriram o verdadeiro valor dos vínculos familiares.
Avenida Brasil
Carminha, então, percebeu que enterrar Nina viva era uma atitude de extrema crueldade e a ajudou a sair da cova. A mulher de Tufão pediu desculpas por tudo o que causou na vida de Nina que, por sua vez, aceitou e as duas choraram juntas após compreenderem que o mal somente gera mais maldade. Depois, elas se abraçaram e saíram do cemitério de mãos dadas e celebrando a amizade.
Senhora do Destino
Nazaré percebeu que roubar um bebê era uma atitude errada, devolveu a criança para Lindalva e tentou se jogar da ponte. Lindalva, percebendo a intenção da vilã, se aproximou dela e disse que sua vida era importante e que Nazaré poderia se redimir. As duas se abraçaram e descobriram o grande valor da sororidade.
Seja o primeiro a comentar