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Um amor que não virou notícia

Eu não lembro mais como e nem quando foi exatamente, mas tudo começou em algum momento de 2015. Era uma manhã chuvosa, começo do meu período de férias no trabalho e, apesar de não precisar por causa do recesso, acordei pontualmente às seis da manhã e liguei a televisão para ver o noticiário. Afinal, não restava muito a fazer naquela segunda cinzenta e um pouco fria além de ver TV, dormir ou ler um livro.

Preparei um café, ou melhor, um chá preto, misturei com o leite, adocei com açúcar mascavo, peguei um pão com manteiga, uma ou duas fatias de bolo e voltei para o quarto com o prato e a caneca. Sentei na cama, olhei para a televisão e foi quando você apareceu na tela. Não sabia exatamente quem era, mas logo seu nome apareceu nos créditos e então tive a certeza de que eu estava, de fato, vendo o rio fluir em uma direção mais brilhante.

Havia mudado de endereço recentemente por diversos motivos e um deles era justamente a necessidade de, pelo menos, tentar superar uma dor que assombrava sem qualquer trégua, parecendo dormir e acordar comigo após um término de relacionamento um tanto traumático. Mas, quando te vi, uma luz diferente se acendeu, um feixe que eu já conhecia e não tinha nada a ver com o equipamento ligado a pouco mais de um metro de mim.

Não senti aquelas coisas todas que dizem, como borboletas no estômago ou coisas desse tipo, mas senti uma enorme afeição. Acho que já não tenho mais aquela coisa da paixão poética, talvez tenha perdido ou deixado de sentir, não sei. Mas, posso garantir que o coração se encantou do mesmo jeito que os poetas descrevem. O sorriso que abri naquele momento, e que ainda abro quando te vejo nas redes sociais ou na TV, é o mesmo e a sensação boa que tenho segue intacta mesmo com o tempo e a conformação que carrego pois, apesar de ter comprado uma televisão mais moderna, sei que o que nos separa não é apenas uma tela. Poeticamente poderia até ser, mas, na prática, a poesia é outra. Possibilidades para quebrarmos essa barreira sempre existiram, mas o destino não determinou que nossos caminhos se cruzassem e, honestamente, não acredito que um dia eles se encontrem em alguma esquina.

Hoje, restam apenas um like aqui e/ou um comentário ali nas redes sociais, mas sei que toda e qualquer reação minha se resvala, juntando-se a uma montanha gigante formada por tantos outros comentários, emojis, likes e outras possibilidades de interações virtuais. Não é difícil entender que meu perfil é apenas mais um nesse enorme ágora digital. Está tudo bem mesmo, juro, e até colocaria um emoji de coração no final desse texto se isso não estragasse a diagramação. 

Ah, quer saber, vou colocar: ❤.

E se tomei coragem para escrever isso, foi, justamente, por essa necessidade de imortalizar essa coisa que segue guardada e esperando um tempo para realização que talvez nunca vai chegar. Apesar da tecnologia reduzir as distâncias, o mundo fora das hashtags segue com seus quilômetros reais e também sei que pode não haver reciprocidade e posso garantir, novamente, que está tudo bem.

Ao longo do caminho, não vou negar, outros amores surgiram, alguns deles chegaram até a evoluir por dois ou três encontros, no máximo, outros não saíram do estágio inicial de contato, mas isso não diminuiu o espaço que meu coração ainda guarda e admiração que tenho por você. Tanto que já confessei a alguns amigos e amigas que você é quem balançaria toda a minha vida se um dia se aproximasse de mim e demonstrasse qualquer interesse.

– Chegaria até terminar se estivesse namorando ou em um casamento? – perguntou alguém certa vez.

– Não nego e nem confirmo. – me limitei a responder por também não saber a resposta exata.

Eu gosto do seu jeito, do seu humor, dos melismas quando fala, da forma como se expressa, do seu amor pelos animais, da sua criatividade, do pudim (ah, os pudins!) que você adora ressaltar que faz sem qualquer furo. Eu também vibro a cada sucesso profissional que você compartilha, e, confesso, torço muito para que sua vida e sua carreira sigam do jeito que você sempre quis e/ou um dia sonhou. Tenho um encantamento grande quando você começa a compartilhar seus gostos musicais e acho incrível a sua entrega quando está em um show. 

Alguém pode pensar que é idealização, mas, honestamente, já passei dessa fase e não preciso me justificar nesse espaço. Não te tenho como exemplo de perfeição, mas o encanto pelo que pouco que conheço, esse sim, tem um quê de completude. Por fim, talvez você nunca leia isso e talvez eu nunca fale abertamente sobre isso com qualquer “pessoa” além dos meus travesseiros e almofadas. E está tudo bem.

Um forte abraço.

PS: Certa vez sonhei com você e confesso que foi a primeira vez que senti as tais “borboletas no estômago” por alguns segundos após muito tempo.

Publicado emCartas de Amor Nunca Enviadas

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